Com sete anos de idade, chegou a altura de ir para a 1ª classe, lembro-me perfeitamente do meu primeiro dia de escola, era franzino, baixo e tímido, fui com duas das minhas irmãs mais velhas, que também frequentavam a mesma escola. Recordo-me de me terem deixado no recinto dos rapazes e de as ver afastarem-se para o recinto das meninas, estávamos separados por um muro, fiquei ali no meio de todos os outros rapazes. Praticamente nunca saíra da quinta, estranhava ver tantos rostos desconhecidos e todo aquele movimento.
Pouco depois, eu e os outros rapazes fomos encaminhados para o átrio, no interior da escola, onde fizeram a chamada, levando-nos pouco depois para a sala de aulas. Lembro-me perfeitamente de ver as carteiras em madeira todas em fila, com o tampo ligeiramente inclinado e banco corrido, para dois alunos, com dois tinteiros (um em cada ponta). Ao fundo tinha a secretária da professora e na parede, ao centro um crucifixo, e de cada lado, duas fotos, uma de Salazar e outra de Américo Tomás, os dois chefes do Governo. Também se encontravam mapas, do corpo humano, dos rios, serras e as linhas dos caminhos-de-ferro, de Portugal e ultramar. No canto do lado direito estava uma lareira, pois os Invernos da Serra eram muito rigorosos.
A escola, modelo Estado Novo, estava dividida ao meio, metade dos rapazes e outra metade das raparigas, mesmo o recinto do recreio estava dividido por um muro, que ninguém ousava ultrapassar. Nas traseiras, havia um alpendre (de cada lado), com telheiro, onde se encontravam as retretes e que serviam também para abrigo da chuva.
“Bom dia Senhora professora”, era assim que tínhamos que dizer, todos em pé, quando entrasse a “nossa senhora” Dona Arminda.
Foram momentos inesquecíveis, que estaria aqui a contar ainda por mais umas páginas.
Segundavida