Estamos ainda na primeira metade do Outono, para mim a estação do ano mais nostálgica. Em primeiro lugar porque terminou o verão, as idas à praia, o encontro de amigos e familiares, e respectivas patuscadas: Também porque se me emergem muitas recordações da minha juventude, quando vivia na quinta onde nasci, cresci e permaneci mais em contacto com a natureza. Hoje estou em condições de afirmar que quando se é criança e durante toda a fase da adolescência, têm-se mais tempo para observar a natureza, pensar nos quandos e nos porquês. Lembro-me de muitas vezes me deitar sobre a relva fresca e ficar tempos infinitos a olhar para o céu, para as nuvens e os pássaros, a tentar (semicerrando os olhos) olhar o sol, pensando como tudo surgiu.
O Outono também me faz lembrar as caminhadas até à floresta, para apanhar cogumelos, que se encontravam escondidos sob o manto castanho/avermelhado de folhas caducas, e quando os não encontrava, enchia os sacos com castanhas para um belo magusto. Também nesta altura se ouviam fortes e relampejantes trovões, que me faziam ficar quieto e mudo a um canto da cozinha, valendo as rezas de minha mãe «Santa Bárbara bendita, que no Céu está escrita, com um raminho de água benta, livrai-nos desta tormenta», que me deixavam mais sereno.
Também é no Outono que deixamos de ver as andorinhas, que de manhã até à noite, esvoaçam os nossos céus, numa busca incessante de alimento, comendo todos os insectos que com elas se cruzam no ar. Elas juntam-se em grandes bandos e voam em direcção aos países mais quentes de Africa, para depois voltarem na Primavera.
Por me serem tão familiares pensava que as andorinhas eram portuguesas, mais tarde compreendi que elas não tinham pátria, mas muitas voltavam todos os anos ao mesmo ninho, por isso têm nelas um pouco de Portugal.
Até pr’o ano!