quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Mobilidades

Desde Setembro que está em funcionamento o programa «Lisboa à Noite: Mobilidade Nocturna em Segurança», uma iniciativa conjunta de Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Ministério da Administração Interna e Câmara Municipal de Lisboa.

Este programa teve como principal objectivo reforçar a oferta existente da rede de transportes públicos nas noites de sexta-feira, sábado e vésperas de feriado em Lisboa, dizem eles com a finalidade de reduzir a taxa de sinistralidade, designadamente devido a excessos no consumo de bebidas alcoólicas nos diversos bares da baixa, mas também disciplinar o tráfego rodoviário, em termos de circulação e de estacionamento, e aumentar a segurança no eixo Bairro Alto - Av. 24 de Julho e Rua de Cintura do Porto de Lisboa.

Boas notícias para os amantes da noite, já que passaram a contar com novos autocarros gratuitos e policiados, a servir o Bairro Alto e a 24 de Julho e com um aumento da oferta nocturna de transportes. Uma delas é o "Night Bus", carreira 1, composto por 4 autocarros que funcionam em regime de vaivém entre o Marquês de Pombal e a gare marítima de Belém entre as 22:00 e as 05:00, com intervalos de 20 minutos. Também a carreira 2, composta por 2 autocarros que circulam entre o Cais do Sodré e Alcântara-Mar, no mesmo horário e com a mesma frequência.

Até aqui tudo bem, mas… e então os outros? Deveria também existir um programa de Mobilidade Diurna para quem vai para o trabalho, principalmente entre as 06h00 e as 09h00 e também entre as 18h00 e as 20h00, que são precisamente os horários de ida para os trabalhos, assim como do regresso a casa. Se construíssem parques de estacionamento nas principais entradas da cidade onde se pudesse deixar o veículo e fizessem carreiras gratuitas (porque não, se os noctívagos têm direito….!) não haveria tantos problemas com o congestionamento de tráfego no interior da cidade e também que lucrava era o ambiente.

Segundavida

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O tempo

Nos últimos tempos o tempo tem sido curto, desde o início de Setembro que ando a frequentar o RVCC para fazer o 12º ano, está previsto terminar em Dezembro e o trabalho tem sido muito.
Depois de muitas mudanças e convulsões no sistema de ensino operadas nos anos pós-revolução, de 1974 a 1981, farto de tanta mudança, abandonei a escola. Frequentava o 11.º ano do curso “Arte e Design”, na altura terminara “o propedêutico” (o ano de acesso ao ensino superior) e foi criado o 12º ano. Foi precisamente há 27 anos, parecia ninguém saber o que querer e o que fazer com o ensino, desisti e decidi prosseguir a minha vida a trabalhar.
Recentemente o governo encarregou-se de mudar as regras no sistema de avaliações (avaliações curriculares) e com este novo modelo, para poder progredir na minha carreira profissional, arriscava-me a ficar para trás, por isso decidi agarrar a oportunidade e completar o 12º ano, neste programa do governo denominado “Novas oportunidades”.
Na antiguidade, o grande Sócrates afirmara: “Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância”. Quando da apresentação deste projecto, Sócrates (o José) também referiu: "temos que fazer mais, temos que fazer melhor e temos que fazer mais rápido". Num certo contexto estão em consonância mas existe um ditado popular que diz “Depressa e bem há pouco quem” e quatro meses para demonstrar o que se sabe penso que seja muito pouco tempo. Já entreguei os trabalhos agora só falta comparecer a “exame”, ao que chamam “Sessão de júri”, que será em Dezembro.

Desequilíbrios

Num destes fins de semana fui à minha terra natal visitar os meus familiares, principalmente o meu pai que se encontra bastante debilitado. Também revi amigos e aproveitei para dar umas voltas pela zona, principalmente uma “ida aos míscaros”, uma espécie de cogumelos comestíveis, muito apreciados na zona. Fiquei surpreendido, pois míscaros (cogumelos) nem vê-los, a terra estava ressequida, por isso imprópria para o seu crescimento. Noutros tempos por esta altura, eram aos montes, pois as chuvadas de Outono já tinham sido suficiente para a sua reprodução.
Quero com isto chegar aos desequilíbrios do tempo. Nos últimos 40 anos mudou consideravelmente, lembro-me que as chuvas começavam em Outubro, continuavam em Novembro e prolongavam-se (a ver vamos...), eram raros os anos que não caíam grandes nevões nas terras altas do interior e Norte. Era normal no Outono.



Por outro lado, no outro hemisfério, onde é Primavera, em que os dias deveriam já estar bem iluminados e aquecidos pelo sol, caiem grandes tempestades de chuva e vento, como foi nos últimos dias o caso do Sul do Brasil, tendo o Estado de Santa Catarina sido assolado por um grande temporal, contabilizando-se já 84 vítimas mortais e elevados danos materiais, principalmente em Jaraguá do Sul e Joinville, como foi testemunhado pela Mar, no seu blogue Suspiros de Gaia. Para todos os que estão a sofrer, principalmente com a perda dos seus entes queridos, envio a minha solidariedade.
Principalmente a partir da Revolução Industrial os céus foram invadidos por gazes poluentes e agravou-se com o desenvolvimento dos motores de combustão dos automóveis, aviões e máquinas agrícolas. Pouco tem sido feito para inverter esta situação, agravando-a ainda mais com a destruição contínua do verde dos campos e das florestas, em prol da construção.
A natureza tem as suas leis e elas têm sido desrespeitadas, por isso colhemos o que semeamos.

Segundavida.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Nostalgias de Outono

Estamos ainda na primeira metade do Outono, para mim a estação do ano mais nostálgica. Em primeiro lugar porque terminou o verão, as idas à praia, o encontro de amigos e familiares, e respectivas patuscadas: Também porque se me emergem muitas recordações da minha juventude, quando vivia na quinta onde nasci, cresci e permaneci mais em contacto com a natureza. Hoje estou em condições de afirmar que quando se é criança e durante toda a fase da adolescência, têm-se mais tempo para observar a natureza, pensar nos quandos e nos porquês. Lembro-me de muitas vezes me deitar sobre a relva fresca e ficar tempos infinitos a olhar para o céu, para as nuvens e os pássaros, a tentar (semicerrando os olhos) olhar o sol, pensando como tudo surgiu.

O Outono também me faz lembrar as caminhadas até à floresta, para apanhar cogumelos, que se encontravam escondidos sob o manto castanho/avermelhado de folhas caducas, e quando os não encontrava, enchia os sacos com castanhas para um belo magusto. Também nesta altura se ouviam fortes e relampejantes trovões, que me faziam ficar quieto e mudo a um canto da cozinha, valendo as rezas de minha mãe «Santa Bárbara bendita, que no Céu está escrita, com um raminho de água benta, livrai-nos desta tormenta», que me deixavam mais sereno.

Também é no Outono que deixamos de ver as andorinhas, que de manhã até à noite, esvoaçam os nossos céus, numa busca incessante de alimento, comendo todos os insectos que com elas se cruzam no ar. Elas juntam-se em grandes bandos e voam em direcção aos países mais quentes de Africa, para depois voltarem na Primavera.

Por me serem tão familiares pensava que as andorinhas eram portuguesas, mais tarde compreendi que elas não tinham pátria, mas muitas voltavam todos os anos ao mesmo ninho, por isso têm nelas um pouco de Portugal.

Até pr’o ano!

Segundavida

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Recepção "amigável"

Quando terminei o ensino preparatório (5ª e 6ª classe) na minha aldeia, entrei para o 1.º ano do secundário (1975) na Escola Industrial Campos Melo na Covilhã. Senti muitas dificuldades em adaptar-me à escola, os “meninos” da cidade gozavam, não só por ter poucos amigos, já que por vezes me isolava, como também devido ao sotaque de aldeão e às vestes humildes que usava.

Logo nos primeiros dias de aulas, quando cheguei junto dos portões da escola, verifiquei um movimento estranho de alguns rapazes mais velhos. Ouvia risadas, outros corriam desalmados pelo pátio fora, e dos que fugiam lembro-me mesmo de ver alguns, a chorar. Fiquei logo de pé atrás, mas como tinha que entrar, lá vou eu. Mal passo os portões vêm logo uns três ou quatro matulões na minha direcção, dois agarram-me e um outro infligem-me várias tesouradas no cabelo, no final, pintaram-me o rosto com carvão. Não chorei, pois apesar de ser humilde, durante a infância já experimentara a dureza dos campos mas claro que fiquei abalado psicologicamente. Naquele dia as aulas “já eram”, por isso, toca a apanhar a camioneta para casa, indo de seguida ter com o “ti Serafim”, o barbeiro da aldeia, para me dar uma disfarçadela no cabelo.

Percebi então o que se passava, os alunos mais velhos faziam aos novos (caloiros) aquelas partidas, que chamavam praxes, tais como cortes de cabelo (tesouradas), pinturas, molhas e outros castigos que já não me lembro.

Aquele ritual prosseguiu durante cerca de uma semana. Muitas das vezes permanecia escondido junto do muro da entrada da escola, à espreita, esperando por um momento em os activistas estavam entretidos com outros para me escapar àquele tormento, outras, não conseguia e faltava às aulas.

Sei que muitos dos meus colegas, nos anos seguintes, fizeram o mesmo aos outros, mas eu nunca me juntei a eles pois não gostava daquelas brincadeiras nem de humilhar ninguém. Mais tarde essas práticas acabaram por cair em desuso nos ensinos secundários e passaram só a ser usadas nos universitários.

Nos últimos tempos, as praxes têm sido notícia, mas pela negativa, pois as mentes mais perversas, dão as boas vindas aos caloiros com divertimentos cruéis, ordinários e gratuitamente rebaixantes, roçando até em alguns casos o crime.

Sou da opinião que a praxe, a existir, deveria seguir regras do bom-senso, trabalhada com humor, subtil, inteligente e porque não até didáctica.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Primeiro dia de escola

Com sete anos de idade, chegou a altura de ir para a 1ª classe, lembro-me perfeitamente do meu primeiro dia de escola, era franzino, baixo e tímido, fui com duas das minhas irmãs mais velhas, que também frequentavam a mesma escola. Recordo-me de me terem deixado no recinto dos rapazes e de as ver afastarem-se para o recinto das meninas, estávamos separados por um muro, fiquei ali no meio de todos os outros rapazes. Praticamente nunca saíra da quinta, estranhava ver tantos rostos desconhecidos e todo aquele movimento.


foto tirada daqui


Pouco depois, eu e os outros rapazes fomos encaminhados para o átrio, no interior da escola, onde fizeram a chamada, levando-nos pouco depois para a sala de aulas. Lembro-me perfeitamente de ver as carteiras em madeira todas em fila, com o tampo ligeiramente inclinado e banco corrido, para dois alunos, com dois tinteiros (um em cada ponta). Ao fundo tinha a secretária da professora e na parede, ao centro um crucifixo, e de cada lado, duas fotos, uma de Salazar e outra de Américo Tomás, os dois chefes do Governo. Também se encontravam mapas, do corpo humano, dos rios, serras e as linhas dos caminhos-de-ferro, de Portugal e ultramar. No canto do lado direito estava uma lareira, pois os Invernos da Serra eram muito rigorosos.

A escola, modelo Estado Novo, estava dividida ao meio, metade dos rapazes e outra metade das raparigas, mesmo o recinto do recreio estava dividido por um muro, que ninguém ousava ultrapassar. Nas traseiras, havia um alpendre (de cada lado), com telheiro, onde se encontravam as retretes e que serviam também para abrigo da chuva.

“Bom dia Senhora professora”, era assim que tínhamos que dizer, todos em pé, quando entrasse a “nossa senhora” Dona Arminda.

Foram momentos inesquecíveis, que estaria aqui a contar ainda por mais umas páginas.


Segundavida

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Quinta da Regaleira em Sintra

Já visitei a Quinta da Regaleira umas quatro ou cinco vezes, mas não me canso de lá ir, pois aquele lugar fascina-me, não só pelo magnífico jardim, repleto de árvores e plantas luxuriantes das variadíssimas espécies, como também pelos edifícios trabalhados em pedra por refinados artífices e todo o mistério envolvente.


“A Quinta da Regaleira é uma mansão filosofal criada entre 1900 e 1912 pelo seu primeiro proprietário, António Augusto Carvalho Monteiro e pelo arquitecto e cenógrafo Luigi Manini, o mesmo do Palace Hotel do Buçaco. O palácio e a capela neomanuelinos apresentam – ao contrário do Buçaco, também neomanuelino, uma simbólica esotérica relativa à tradição mítica portuguesa e a algumas correntes iniciáticas.” Do livro, Portugal Misterioso.


Palácio da Regaleira, foto tirada através da vegetação envolvente.


No último fim-de-semana do mês de Agosto recebi a visita de familiares, que de tanto ouvirem (bem) falar da Quinta da Regaleira, estavam também desejosos de a visitar, por isso servi-lhes de umas espécie de improvisado guia.

Iniciámos a visita, em ascensão, através do Patamar dos Deuses, um corredor ladeado por 12 estátuas de divindades da mitologia Greco-Romana. Em seguida caminhámos junto do lago da Gruta do Labirinto, onde entrámos e tivemos que fazer uso de uma lanterna, que (surpreendentemente) propositadamente já trazia de casa e nos valeu para percorrer os túneis obscuros do labirinto, que ainda hoje não sei onde acabam.

Já no exterior, percorremos caminhos e jardins até ao Lago dos Cisnes, onde, em pedra sobre pedra, entrámos novamente em túneis escuros, que nos levavam a outros mais tenebrosos e por sua vez ao fundo de um poço, nas profundezas da terra, onde se encontrava gravada uma cruz templária o símbolo heráldico de Carvalho Monteiro e símbolo da harmonia e também da Cavalaria Espiritual na Maçonaria Escocesa.

Poço iniciático, foto tirada desde a base.


Poço iniciático, foto tirada de cima, vendo no fundo a Cruz dos Templários


A volta tinha sido feita ao contrário, em vez de se descer o poço iniciático até às profundezas da terra, subimos as escadarias em espiral, até ao céu. Aí saímos por uma espécie de porta secreta, divinamente e estrategicamente camuflada por um aglomerado de penedos.


Do céu voltámos novamente à terra, desta vez em sentido descendente, passando pela Torre da Regaleira, Gruta da Leda, até à Capela da Santíssima Trindade, toda ela talhada em estilo gótico-manuelino, com torres verticais a chegar a Deus e belíssimos vitrais no seu interior.


Pormenor da fachada principal da Capela da Santíssima Trindade


Por fim, terminámos a visita no Palácio, que é o edifício principal, todo ele de uma beleza fascinante, em cruzamento de vários estilos arquitectónicos, como o Manuelino, Renascentista, Romântico e Gótico.

No interior há a salientar os magníficos tectos em talha de madeira de carvalho e castanho, as belas pinturas na parede, a emblemática Sala da Caça, a Sala dos Reis, onde se encontram representados em pinturas, a grande maioria dos reis de Portugal e a surpreendente biblioteca, onde o chão é rodeado de espelho, dando a ideia arrepiante de um pavimento suspenso.

No final constatámos que tínhamos demorado 4 horas e que a visita em alguns locais tinha sido ligeira, por isso muita coisa tinha ficado ainda por apreciar. Descrever todos os passos da visita a este belo local encheria várias páginas deste meu espaço, pelo que só visto e...sentido.


Vale a pena consultar:


http://www.esquilo.com/jardins_regaleira.html
http://www.cm-sintra.pt/Artigo.aspx?ID=2907

http://atracoessintra.no.sapo.pt/partesquinta.htm#quinta




Segundavida