quarta-feira, 29 de abril de 2009

Catribana

Nos meus passeios pela zona saloia, cada vez que passava por S. João das Lampas, em Sintra, reparava numa placa a indicar “Catribana”. Além de ter um nome invulgar também vim a saber que existia nesta povoação uma calçada e uma ponte Romana. Como gosto especialmente de história, passei pela biblioteca e descobri em documentos, factos que se referem às origens daquele povoado.

Vim a apurar que foram efectuadas em 1950 explorações arqueológicas, sob a responsabilidade de Prescott Vicente e Cunha Serrão, já que a toponímia do local (Catrivana) sugeriria aos investigadores, etimologias célticas. Mais tarde foi encontrada uma estação arqueológica num ponto elevado, cujas encostas, muito pedregosas, caem sobre a margem de um curso de água (Ribeira da Samarrra) e cujas características e espólio encontrado sugerem um povoado Neolítico de meados ou finais do 4º milénio a.C.

Também se descobriram vestígios significativos de cerâmica, pequenos machados de diorito e anfibolito, um furador de osso e várias outras peças em sílex e lascas de quartzito, vestígios depositados no Museu Regional de Sintra. Perto deste local também se descobriu uma estação Luso-Romana, provavelmente uma necrópole.


Poderá estar aqui a explicação para a calçada e ponte Romana, dado que para o Império, os meios de comunicação eram de primordial importância, neste caso, provavelmente uma via secundária, que ligava duas vilas Romanas importantes, e também o acesso à necrópole.

Desde o largo principal de Catribana caminhei por uma estrada de terra em direcção a sul da aldeia, ao fim de cerca de 1km, encontrei a ponte Romana, composta por um só arco com parapeito. Após passar sobre a ponte fui por um carreiro, entre o mato, tendo descido até à ribeira de Bolelas, que aqui já é denominada da Samarra, por estar perto da Praia da Samarra.

Junto à ribeira tirei algumas fotos da ponte e pude constatar que está muito mal conservada, direi mesmo em completo abandono (como se pode ver nas fotos). É uma tristeza enorme verificar que os organismos competentes não conservam (ou fazem conservar) o património histórico. Interrogo-me se esta ponte não é considerada suficientemente importante, mas ela está classificada como imóvel de interesse público ( http://www.ippar.pt/pls/dippar/pat_pesq_detalhe?code_pass=69672 ) pelo IPPAR, não se compreende.

Quanto à calçada Romana, no lado direito da margem da ribeira, pude constatar que existe um empedrado de cerca de 50 metros, mas a maioria das pedras estão soltas, dizem que devido à prática de moto-4. Penso que, se este património não for preservado convenientemente tende a desaparecer. Temos pena….

Segundavida

11 comentários:

mvalleym disse...

tiene toda la poesía reflejada en la fotografia. Cuanto talento!!
Parabens
Beijos,
Valle

Anônimo disse...

É um desgosto verificar o abandono a que está entregue algum do nosso património.
Ainda bem que vamos encontrando pessoas atentas, defensoras e que alertam para estas situações.

Um dia que vá para esses lados, já sei quem hei-de convidar para uma visita guiada. :):)

Grande abraço.

Ricardo Manuel de Bastos disse...

Efectivamente, é pena que o nosso património histórico-natural não esteja a ser devidamente protegido pelas autoridades competentes.

Teresa Santos disse...

É uma lástima, um atentado (haverá classificação?...) o que se faz com o nosso património, seja ele qual for. Mas, desde quando é que a preservação do património dá votos????


Abraço.

arte por um canudo 2 disse...

Juntar o útil ao agradável, João.Uma passeata pela natureza ao encontro da história.Excelente lição com apelo aos governantes na preservação do património. Espera-se que tenha eco nas entidades competentes. Gr. abraço

Jotas disse...

Caro amigo, eu que tantos passeios dou por aquela zona, nunca reparei em tal placa, mas aí está o meu próximo passo nos grandes passeios em Sintra.
Não temos estado juntos, nem conversado muito, mas espero que estejas hoje mais animado que da última vez em que falamos

Lucas Vallim disse...

Essa situação é realmente lamentável, nosso patrimonio histórico-natural não ter o devido cuidado..


Estou te adicionando na minha lsita de blogs....se quiser add também fique à vontade..

Até mais!

Marlene Koch disse...

Um grande achado histórico amigo. O mais interessante que observo nas tuas fotos, é que a história faz pose para fotografares. O teu carinho e interação com as coisas de Deus faz tuas fotos brilhares e terem vida própria. És um guerreiro abençoado Jam. O Espírito do tempo pousa para vc nas fotos. Pena que a história ao invés de ser preservada, muitas vezes é derrubada abaixo só para ver o que tem embaixo. O abandono sempre se origina do fato de que a preservação não gera money!!!!! Os supostos donos do mundo são estúpidos.

Mário Lima disse...

Olá João

Pelos vistos tenho que ir até "Catribana", que desconhecia por completo, para ver esses vestígios romanos para o meu blogue antes que tudo isso desapareça devido à incúria e ao desleixo de quem deveria preservar essas "relíquias" históricas.

Fizeste um tema que poderá despertar consciências até para esses das moto-4, que eventualmente te possam ler, que fazem de uma calçada romana as dunas da Caparica

Uma boa foto, um ribeiro e uma ponte que dignifica um Império que por aqui passou há mil anos atrás.

Um abraço!

Anônimo disse...

Nasci em Catribana e cada vez que vou ver a ponte ,fico desesperada ao verificar que cada ano que passa a degradação é maior, sem que ninguem faça nada,a calçada está quase metade do que estava á quarenta anos,por este andar já não dura outros 40.Anos atrás pertenci á junta de freguesia ,chamei a atenção para o abandono da ponte ,a resposta foi: é com o Ipar não podemos tocar. novamente na junta de novo chamei a atenção , igual resposta. As motoquatro assim como os todo o terreno continuam a degradar a calçada. Que podemos fazer?

Anônimo disse...

Desde 2006 que chamo a atenção da Junta de Freguesia de S. João das Lampas, da Câmara Municipal de Sintra e do IPPAR para esta situação. A junta de Freguesia "chuta" para o IPPAR, o IPPAR diz que vai fazer diligências junto da CMS para se averiguar a situação e a CMS nem responde (como é hábito).
Estamos bem entregues não há dúvida.