terça-feira, 16 de setembro de 2008

Primeiro dia de escola

Com sete anos de idade, chegou a altura de ir para a 1ª classe, lembro-me perfeitamente do meu primeiro dia de escola, era franzino, baixo e tímido, fui com duas das minhas irmãs mais velhas, que também frequentavam a mesma escola. Recordo-me de me terem deixado no recinto dos rapazes e de as ver afastarem-se para o recinto das meninas, estávamos separados por um muro, fiquei ali no meio de todos os outros rapazes. Praticamente nunca saíra da quinta, estranhava ver tantos rostos desconhecidos e todo aquele movimento.


foto tirada daqui


Pouco depois, eu e os outros rapazes fomos encaminhados para o átrio, no interior da escola, onde fizeram a chamada, levando-nos pouco depois para a sala de aulas. Lembro-me perfeitamente de ver as carteiras em madeira todas em fila, com o tampo ligeiramente inclinado e banco corrido, para dois alunos, com dois tinteiros (um em cada ponta). Ao fundo tinha a secretária da professora e na parede, ao centro um crucifixo, e de cada lado, duas fotos, uma de Salazar e outra de Américo Tomás, os dois chefes do Governo. Também se encontravam mapas, do corpo humano, dos rios, serras e as linhas dos caminhos-de-ferro, de Portugal e ultramar. No canto do lado direito estava uma lareira, pois os Invernos da Serra eram muito rigorosos.

A escola, modelo Estado Novo, estava dividida ao meio, metade dos rapazes e outra metade das raparigas, mesmo o recinto do recreio estava dividido por um muro, que ninguém ousava ultrapassar. Nas traseiras, havia um alpendre (de cada lado), com telheiro, onde se encontravam as retretes e que serviam também para abrigo da chuva.

“Bom dia Senhora professora”, era assim que tínhamos que dizer, todos em pé, quando entrasse a “nossa senhora” Dona Arminda.

Foram momentos inesquecíveis, que estaria aqui a contar ainda por mais umas páginas.


Segundavida

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Quinta da Regaleira em Sintra

Já visitei a Quinta da Regaleira umas quatro ou cinco vezes, mas não me canso de lá ir, pois aquele lugar fascina-me, não só pelo magnífico jardim, repleto de árvores e plantas luxuriantes das variadíssimas espécies, como também pelos edifícios trabalhados em pedra por refinados artífices e todo o mistério envolvente.


“A Quinta da Regaleira é uma mansão filosofal criada entre 1900 e 1912 pelo seu primeiro proprietário, António Augusto Carvalho Monteiro e pelo arquitecto e cenógrafo Luigi Manini, o mesmo do Palace Hotel do Buçaco. O palácio e a capela neomanuelinos apresentam – ao contrário do Buçaco, também neomanuelino, uma simbólica esotérica relativa à tradição mítica portuguesa e a algumas correntes iniciáticas.” Do livro, Portugal Misterioso.


Palácio da Regaleira, foto tirada através da vegetação envolvente.


No último fim-de-semana do mês de Agosto recebi a visita de familiares, que de tanto ouvirem (bem) falar da Quinta da Regaleira, estavam também desejosos de a visitar, por isso servi-lhes de umas espécie de improvisado guia.

Iniciámos a visita, em ascensão, através do Patamar dos Deuses, um corredor ladeado por 12 estátuas de divindades da mitologia Greco-Romana. Em seguida caminhámos junto do lago da Gruta do Labirinto, onde entrámos e tivemos que fazer uso de uma lanterna, que (surpreendentemente) propositadamente já trazia de casa e nos valeu para percorrer os túneis obscuros do labirinto, que ainda hoje não sei onde acabam.

Já no exterior, percorremos caminhos e jardins até ao Lago dos Cisnes, onde, em pedra sobre pedra, entrámos novamente em túneis escuros, que nos levavam a outros mais tenebrosos e por sua vez ao fundo de um poço, nas profundezas da terra, onde se encontrava gravada uma cruz templária o símbolo heráldico de Carvalho Monteiro e símbolo da harmonia e também da Cavalaria Espiritual na Maçonaria Escocesa.

Poço iniciático, foto tirada desde a base.


Poço iniciático, foto tirada de cima, vendo no fundo a Cruz dos Templários


A volta tinha sido feita ao contrário, em vez de se descer o poço iniciático até às profundezas da terra, subimos as escadarias em espiral, até ao céu. Aí saímos por uma espécie de porta secreta, divinamente e estrategicamente camuflada por um aglomerado de penedos.


Do céu voltámos novamente à terra, desta vez em sentido descendente, passando pela Torre da Regaleira, Gruta da Leda, até à Capela da Santíssima Trindade, toda ela talhada em estilo gótico-manuelino, com torres verticais a chegar a Deus e belíssimos vitrais no seu interior.


Pormenor da fachada principal da Capela da Santíssima Trindade


Por fim, terminámos a visita no Palácio, que é o edifício principal, todo ele de uma beleza fascinante, em cruzamento de vários estilos arquitectónicos, como o Manuelino, Renascentista, Romântico e Gótico.

No interior há a salientar os magníficos tectos em talha de madeira de carvalho e castanho, as belas pinturas na parede, a emblemática Sala da Caça, a Sala dos Reis, onde se encontram representados em pinturas, a grande maioria dos reis de Portugal e a surpreendente biblioteca, onde o chão é rodeado de espelho, dando a ideia arrepiante de um pavimento suspenso.

No final constatámos que tínhamos demorado 4 horas e que a visita em alguns locais tinha sido ligeira, por isso muita coisa tinha ficado ainda por apreciar. Descrever todos os passos da visita a este belo local encheria várias páginas deste meu espaço, pelo que só visto e...sentido.


Vale a pena consultar:


http://www.esquilo.com/jardins_regaleira.html
http://www.cm-sintra.pt/Artigo.aspx?ID=2907

http://atracoessintra.no.sapo.pt/partesquinta.htm#quinta




Segundavida